13 de maio: A abolição inacabada
14/05/2012
Secretária Nacional de
Combate ao Racismo da CUT
Maria Julia Nogueira
Para o coletivo
nacional de combate ao racismo essa data não pode mais passar em branco, sem
qualquer preconceito em relação aos trabalhadores e trabalhadoras de cor
branca.
Do ponto de vista dos
negros e negras do Brasil, a abolição só poderá estar completa quando forem
reconhecidos todos os nossos direitos, tal como o direito à terras das
comunidades tradicionais quilombolas, uma das marcas vivas do processo de
exclusão de milhares de brasileiros que ajudaram a construir a riqueza do
país.
É preciso lembrar que
a Lei Áurea, com seus dois singelos artigos, foi aprovada por um parlamento de
maioria republicana e conservadora, encarregada de manter a lei enxuta, bem ao
gosto dos ricos proprietários de terras, sem qualquer menção a indenizações e
direitos para os escravos libertos.
13 de
maio de 1888
Art. 1.º É declarada extincta a escravidão no Brazil.
Art. 2.º: Revogam-se as disposições em contrário.
O fim da escravidão
foi o resultado de uma transição lenta (Lei do Ventre Livre, Lei do Sexagenário
e outras) e, ao mesmo tempo, um processo de embranquecimento do
trabalho com a chegada centenas de milhares de imigrantes pobres vindos da Europa
para substituir os libertos nas fazendas de café e do trabalho braçal urbano em
pequenas oficinas e no comércio, consolidando a construção de uma sociedade
desigual, racista e excludente.
Sabemos bem que a
economia baseada no trabalho escravo foi universal na America colonial, que
Inglaterra, França, Holanda, Portugal e Espanha trouxeram milhões de cativos
africanos além de incentivarem o aumento de natalidade entre os escravos
africanos.
Mas o processo de
abolição da escravatura teve características diferenciadas. Os libertos nos
Estados Unidos, por exemplo, receberam equipamentos, instrumentos de
trabalho e um acre de terra para produzir o seu próprio sustento. No
Brasil, os libertos foram simplesmente expulsos das propriedades da qual faziam
parte para a busca de um recomeço, que pode ser caracterizado como uma segunda
“diáspora”, agora dentro do mesmo território.
É preciso reafirmar
que a abolição não foi uma conquista, mas o início de uma nova luta, tanto pela
ausência de direitos quanto pelo recrudescimento do racismo. A ideia de que
qualquer negro poderia ter o direito de ser um cidadão brasileiro provocou
grande revolta entre os ex- senhores de escravos. Surgiu então a ideia de
que o negro deveria ser colocado no seu lugar, ou seja: como cidadão de segunda
classe.
Porém, apesar de toda
resistência da população negra, foi preciso 155 longos anos até a aprovação de
um decreto destinado a regulamentar a titulação dos territórios quilombolas
(Decreto 4.887/2003) e política de cotas raciais e outros direitos fundamentais
para a população negra.
Mas a luta continua.
Agora temos pela frente outra Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) de
autoria do DEM. Parece que os Democratas são a encarnação do velho Partido
Republicano, pois questiona tanto o princípio do autorreconhecimento para
identificação de quilombolas e a autonomia das comunidades para delimitar seu
território quanto à previsão de pagamento de indenizações a ocupantes não
quilombolas.
O dia da abolição não
é uma data comemorativa, mas é uma oportunidade de lembrar à sociedade o que
não foi escrito e deveria estar na lei da abolição: o nosso direito á educação,
cultura, moradia e saúde com independência financeira. O direito de viver com
dignidade.
Esse 13 de maio não
passará em branco, devemos transforma-lo no dia da solidariedade com todos os
trabalhadores e trabalhadoras que lutam por esses direitos e, particularmente,
com as populações tradicionais dos quilombos que exigem o direito à
propriedade dos territórios em que vivem a mais de um século.
Fonte: http://www.cut.org.br/destaque-central/48286/13-de-maio-a-abolicao-inacabada
Nenhum comentário:
Postar um comentário